terça-feira, outubro 10, 2006

Telefonema toda

- Você anda inspirada.

(tu andas a inspirar-me)

- Você ultrapassa a superfície do ecrã com a sua escrita: eis o seu poder.

(tu és um comunicador misterioso. eu quero muito que me sintas)

- Eu quero saber se você anda bem.

(só isso? eu preciso de derrotar moínhos no teu olhar, que te descrevo, que te confesso)

- Você é gentil.

(eu sou atenta. tu tens possibilidades por cumprir?)

- Quando é que eu a vejo?

(eu quero dizer: hoje mesmo. é verdade que vives imageticamente uma outra circunstância? emigras a tua realidade e pões-te num cenário de outras escolhas? que olhar esse tão maior do que a vida que cumpres?)

- Eu telefono. Você tem uma enorme sensibilidade.

(eu nunca me vi bonita. eu cresci feia. lá estou eu, como naquele dia, a falar sem a hesitação do medo)

- Tenho a certeza de que já a convenceram da sua beleza.

(há vozes raras a dizerem "que bonita" que me convencem a pele toda e estendem essa beleza a uma menina que era feia. é um mistério: a tua voz, no amparo do teu olhar, tem essa raridade)

O mistério dos afectos imediatos. Os espelhos. Os silêncios pacificadores. Os pudores da aproximação. A negação da generalidade e da abstracção: a revogação da norma.
O nosso caso.

1 comentário:

Paulo disse...

É, de facto, uma «consolação» voltar a este blogue.
Obrigado

Paulo