- Tenho duas moedas que guardei do troco do café que nos uniu uma vez na vida, na esplanada estrangeira, sem o barulho dos carros arredondados. Fugimos para uma pensão e aquilo foi uma gritaria.
- Escolhes assim umas memórias quando conversamos, uma coisa qualquer; essa tua ligeireza tão insinuada.
- Mudas-me as fraldas todos os dias e a fixação do teu olhar na minha humilhação precisa da esplanada onde o rumor era o da sedução.
- Essas pernas, um dia, que engraçado.
- Esta espera, estas pernas, este descontrolo: umas fraldas. Enquanto me limpas, podes enevoar a merda que vês e veres-me a engatar o estrangeiro, na esplanda onde não me detinha a pedinde a alargar os séculos da esquina.
- Tu gostas de provocar. De dar cabo da inocência que a malta associa à velhada, sobretudo a esta, posta aqui fora do mundo, com a voz a pronunciar a véspera e o corpo a pedir uma mantinha.
- Experimenta enfiar um dedo dentro de mim de olhos fechados, limpa-me primeiro, ainda estou a arder, verás: por dentro não há vestígios da minha mantinha.
- Velha doida.
- Gemia toda, havias de ver.
- Já estás limpinha, dorme.
- Queres-me boazinha, não é? Boa, nunca, que aos velhos só se aplicam diminutivos. Pois eu não faço como o resto da velhada. Não espero por dormir para me permitir o regresso ao que me der na cabeça. Odeio esta mantinha, esta mortalha. Não espero por dormir, entendes? Vão ver-me velha, velha, a babar-me toda, sem calar o direito da minha memória, o dia da esplanada, os meus atrevimentos, a minha não-inocência: nunca mudarás esta fralda como se não pudesse ser a tua, menina má, menininha.
Sem comentários:
Enviar um comentário