É-se familiar quando se diz a palavra sem cautela, porque se sente - porque se sabe - que o outro a reconhecerá como se sua.
Uma ou outra vez na vida encontramos um familiar - identificamo-lo - ao primeiro olhar. Há ali, ali, naquela pessoa, não um pouco de nós, mas precisamente o nosso segredo. Isto é: olhamos o familiar e sabemos que dele não poderemos ocultar a nossa intimíssima verdade, como seja um insuspeito vício pela fronteira da trangressão. Num palco social onde, por exemplo, essa pulsão interior é invisível para os outros, os dois familiares olham-se e sabem que são iguais; que circulam no mundo daquela sanidade, insuspeitos de conversarem no tom de todos com a cabeça posta na mesma transgressão. Não é preciso pronunciar um verbo. Basta olhar o nosso familiar, quando o encontramos.
Como se, mudos, os familiares dissessem:
- Tu também...?
- Claro que sinto.
- Eu sei que sim.
- Eu também sei. Que sentes.
Depois é um calor... é o calor.
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