quarta-feira, abril 23, 2008

ouve o bater da porta de casa atrás de si,
passa a mão pela cabeça do cão e pensa:
afecto.

quinta-feira, abril 10, 2008

andar, andar, andar. ela está, no entanto,
sempre no mesmo lugar.
felizmente não tem flores - que odeia - em casa.
onde está sempre, há muito ruído e tanto silêncio
que não chega.
nem cai.
por uma jarra que fossse.
a sua.

domingo, abril 06, 2008

Regresso

Hoy como Ayer
Mañana como Hoy

Gustavo A. Bécquer



Ela a querer muito as condições de um regresso.
Como hoje, um acaso.
Anda a lutar contra o tempo com o próprio tempo.
Dói em segredo como a dor de uns pais de sorriso triste.
Dias raros, sem amparo, um pretexto: voltou, trémula.
Atreveu-se. Uma voz, um acaso a dizer-lhe que regresse.
É sempre uma pessoa que a morre; é sempre uma pessoa
Que a perdoa.
Regressa, então.
Lutando contra o tempo com o próprio tempo.
Os dias sem amparos são unidades de tempo.
E talvez um dia um desconhecido a faça parar de tremer
Ou agradeça o seu tremer
Ou entenda o seu tremer
Diria: eu não te estranho.
O luto está feito e ela sabe que hoje é ontem e que
Amanhã é hoje.
Dói. Mas vive-se.