Que verdes anos, os nossos? O futuro tão desejado e agora que tal, que tal, começarmos a salpicar os verdes anos que temos, hoje, agora, o dia de ontem, ontem mesmo, hoje? Quais os verdes anos que tememos a morte? Abraça-me e espera quieto, não pela perda de qualquer colorido, mas por uma pacificação dos nossos temores. Estes verdes anos, não sei se andamos a dar por eles, de tanto temermos que se vão embora sem a vida-prometida-inteira. Um dia, um dia, hoje, sem metáforas, agora que ainda não bebemos café, agarra os teus verdes anos e desliza na linha de um eléctrico, diz: estou aqui.
Eu também tenho medo, medo concreto, medo abstracto, temor, de manhã, queres saber?, de manhã quando a água do chuveiro escorrega na minha cabeça, de olhos fechados, tenho medo de desvanecer, tenho medo de uma decomposição líquida que começa no interior do meu cérebro magoado. Ir pelo ralo em espírito, uns verdes anos terminados na banheira. Abraça-me agora, a tua doença e a minha, tão incomunicáveis no diagnóstico, tão unidas no efeito, o medo, a nostalgia magoada de verdes anos por inscrever.
Desliza comigo, eu vou tomar banho de olhos abertos, para não ir pelo ralo, tu vais renunciar à observação minuciosa da tua pele, e rumamos à maginal, como tantos verdes anos o fizeram, abraça-me, deixa-te amparar amparando-me, eu preciso de ti: os meus verdes anos, tu, os teus verdes anos.
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