quinta-feira, outubro 26, 2006

A cruz da ansiedade

Come as pontas dos dedos curtos com rigor. Dedo a dedo a sua ausência expressa-se toda no gesto da mutilação quase social. Só dela a percepção de uma pele arrancada ao canto profundo da unha; só dela o sabor do sangue que dói ali, num ponto tão situado.
O que se lhe dá a ver para além dos dedos é o seu medo: as mesas do almoço na sala abafada por vozes que se cruzam e geram uma cruzada contra ser uma possibilidade. O som dos talheres inicia a sua desconstrução, o que era impedido roendo os dedos; por substituição.
O que se lhe dá a ver é o barulho dos outros ser o seu silêncio. A morte é induzida do movimento em redor do espaço imediatamente após ao da sua roupa.
Respirar pesa progressivamente.
Pegar numa caneca de café é desafiar a gravidade imensa do seu terror, por isso fixa o olhar no café a arrefercer e quer, genuinamente, morrer.

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