quinta-feira, novembro 16, 2006

Para a L.

olha a menina de 11 anos: tem o corpo frágil, cresce com dificuldade, no olhar que pede em silêncio vai a dor por se sentir olhada como uma fraca. rejeita tudo o que pode ser rejeitado do mundo exterior, esse que lhe dita a condição de baixinha e de lenta, sobretudo de mais baixinha e de mais lenta do que os outros.
olha a menina de 11 anos: encontra-lhe em sombreado uma outra menina, presa naquela pele transparente, a menina que criou no seu mundo interior onde não há medida nem velocidade. o medo que pesa na criança dita-lhe um vocabulário invulgar, sofrido, porque contido. criança alguma diz, perante o presente que sonhou, que gostou bastante; criança alguma, atacada pelo colega que a esmaga quotidianamente se lhe refere como um menino chato; criança alguma projecta a dor que o padrão em redor lhe incute numa exigência ética de grau quase irreal, como que a querer que fracos os passos que dê sejam pelo menos fracos passos de menina boa.
Olha a menina com 11 anos e inicia-se o diálogo:
- que fazes?
- escrevo no meu diário.
- que escreves?
- os meus pensamentos e os problemas, também dos outros.
- preferes escrever a falar sobre o que sentes?
- sim. prefiro escrever a falar.
- por quê?
- porque às vezes os nossos pensamentos podem magoar as pessoas.

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