por um dia que fosse, vestiria a tua pele e tomaria a tua dor. esta impotência perante o peso dos anos que agora vês apedrejados sem aviso faz da tua imagem uma exortação.
ninguém te vê amparar a mágoa numa corcunda, essa que se forma nas pessoas comuns, eu olho-te e penso: como manuseias esse sorriso sofrido, como equilibras a coluna quando te condenam à força da gravidade que nos leva ao centro escuro do mundo? cada movimento do teu corpo desenha a história da tua história e a doença que predomina todas as doenças: a solidão. dói culposamente saber que andávamos lá, nos anos nos dias e nas horas em que sofrias calada. dói reconhecer que fomos espectadores imóveis. e sorris. hoje. hoje que te roubam o desígnio de uma vida, sorris para nós. quando te vejo, vejo o quanto sou pequena e o pouco que ainda fiz por um dia ser olhada como te olho. hoje és as minhas lágrimas. a tua dor é pesada, mas é também de uma beleza difícil de acolher: um espaço de luz há muito negado onde apareces a inspirar quem passa por ti.
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