quarta-feira, novembro 22, 2006

Eis o amor

e leio o poema ao telefone. a tua voz arredonda-se e entra dentro de mim, fura-me a cabeça; partícula a partícula a tua voz corrói a ansiedade silenciosa do medo; partícula a partícula, a tua voz costura-me o tecido da ansiedade silenciosa da verdade: a paz de te sentir. um sorriso a escutar-te, os meus olhos tristes mesmo quando solto uma gargalhada, uma tristeza harmoniosa; eis o que faz do amor uma dor: eis o amor.
e leio o poema ao telefone. a tua voz tem intervalos, respiras, e eu inspiro o ar que expiras; um dia depois ainda o amacio na minha língua ou amacio a língua com o ar que expiras. não dói a vida que me escapa no homem que me visita dizendo que linda mãe darias. só tu me dóis, o amor é uma dor: eis o amor.
e leio o poema ao telefone, escorrego os dedos na janela embaciada quando termino, passo-os na tua cara distante e penso: abraça-me com força, não me mordas, como já te pedi, mas abraça-me com muita força, em silêncio, e deixa-me chorar convulsivamente este amor, abraça-me com muita força, em silêncio, é só isso, permite-me essa força: o meu futuro.

Sem comentários: