entre a verdade e a verdade da mentira: a ficção que ainda é verdade apenas, a minha exposição, o teu temor por mim, que agradeço, o meu cansaço das sombras, o impulso ontológico de ser, de ser assim, de gritar sem medo, de escrever o que pode merecer um enforcamento, a tensão do desiquilíbro de escrever, a morte da omissão.
entre a verdade e a verdade da mentira: eu sou assim. ou: eu preciso de ser assim? digo que não tenho medo, temendo em cada aviso que me me fazes, temo porém muito mais passar por aqui sem ser, sem ousar ser assim, meu bom conselheiro, estou numa vertigem, vem aí um escrito, faço-o como quem tem de assinar uma intimação judicial, sem pensar, um dever, sob pena de ser julgada, aqui, por dentro, por um fantasma que se chama diluição, ou não construção, ou apagamento, da identidade, por isso me lanço, sem inlclinações, sem meditar no risco, seja o que deus quiser, o canto de cisne, ou o encanto de uma vida que mereça a pena, por isso me lanço, entre uma lágrima e um sorriso, a tremer e a erguer-me, sempre instável, sempre viva, isso, é por isso, assim estou a pulsar, está a pulsar, uma presença dentro de mim, maior do que a dor que me encurralou naqueles tempos, e pode ser que me amem na minha ousadia, e pode ser que me amem na minha dor, e pode ser que me amem nas minhas agressões, e pode ser que me aceitem, e pode ser que me acolham, entre a verdade e a verdade e a verdade, pode ser que perca a raiva à cegueira colectiva, pode ser que outros se consolem por vizinhança, e pode ser que perca o medo de mim, e pode ser que vingue a tese da coragem de se ser como se é, assinando sem outro medo que não o de nós mesmos e enfrentando-o assim mesmo: soletrando-o.
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