as coisas não estão assim tão negras, minha linda.
eu digo-te isto e não creio em nada do que os meus lábios vão mentindo. queres lá saber se a descrição das imagens, mesmo com sangue nelas, é outra que não um cume cheio de gelo; dirás, como Rimbaud, acredito que estou no inferno, por isso estou nele. vou talvez parar esta boca tão social a querer agarrar-te e dar-te uma outra voz, essa já percorrida na vizinhança da verdadeira realidade: outra há que não a que sentimos? não, pois não, minha linda, e recordo bem a estrada velha de sintra cheia de curvas nos únicos momentos de irreais rectas; então poderia acelerar o carro, o meu corpo ficaria intacto, diria a geografia, mas eu acreditava que estava numa tão precisa curva, por isso estava, que fazer se não travar a fundo, antes que morta, e pior que um corpo dilacerado é um cérebro assustado.
as coisa estão negras, minha linda, se assim o dizes. fala-me desse mundo negro para que foste atirada, chora o que te obrigar a dor e mata sem piedade quem se atrever a dizer-te louca.
1 comentário:
Impossível não verter uma lágrima ao lê-lo, aqui onde as coisas estão mesmo negras. Belo, como sempre.
Joana
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