domingo, maio 13, 2007

Ontem não consegui arrancar-te da minha mão

Ontem não consegui arrancar-te da minha mão
Noventa dias idos, visitei o silêncio onde ficou o teu corpo
Um lugar apenas
Muito só, tu, sem nome a avisar uma pessoa, a clamar uma fogueira
Ontem não consegui arrancar-te da minha mão
Uma palavra escrita, a tua mão, pela minha, a assinar este papel
Dir-te-ia agora o nome do poeta que escreve: a mão a assinar este papel
Queria apenas que tivesses sentido o peso da tua mão
A impressão dela num papel
Queria apenas que tivesses telefonado, como nunca fazias
Até ser eu a adivinhar que chegava aquela dor, aquela dor
que descobre sítios inesperados nos ossos
Ou uma outra voz a avisar por ti, queria muito abraçar-te
Noventa dias antes de ontem
Para voltar a abraçar-te hoje, que te soletro cheia de medo
Cheia de medo de te perder
Sem a tua voz a recordar-me dela

5 comentários:

P disse...

Fantásticos textos! Há muito tempo que não me apetecia tanto reler um texto três ou quatro vezes de seguida.
O único problema é que, como vale tanto a pena, se fica muito tempo a 'folhear' o blog.... Parabéns.

P disse...

Desculpe a re-invasão do blog mas, para além do comentário pliticamente correcto que anteriormente deixei, queria expressar a minha emoção relativamente aos textos que tocam tão de perto a perda, uma perda dolorosa. São as voltas que a vida nos troca e que as palavras ajudarão a suportar. (Desculpe, mais uma vez, mas os seus textos não deixam espaço para a indiferença, acordaram-me... Obrigado)

bigos disse...

Minha Querida, choro ao ler o que escreves sobre ela. Choro de dor e de vazio. Um beijinho V.

Isabel Moreira disse...

V. querida,
sem palavras.
também te li.
um beijo

Anónimo disse...

Nao podemos abraçar o nada. E foi com o que ficamos daquele abraço, nada. Nada para sempre. Nunca mais, é este o pensamento que me doi. Revolta-me a minha impotencia perante os factos que a natureza nos impoe. A morte, a injustiça e o sofrimento. Nao quero, odeio, mas sou obrigada a aceitar. Infelizmente a natureza humana é a nossa principal opressora.