como no verso, a noite com árvores na boca. a casa a entrar pelos teus olhos iluminados na fotografia tua, muito viva, o verde aflito com o sol e com a lâmpada que te avisa da minha entrada. como no verso, a noite com árvores na boca, os teus olhos a reconhecerem o choro dos meus, hoje vindos de outros, muito aflitos, sossegados, quase, até que na boca, pelos olhos cativa, se desenha a frase da minha emigração. como no verso, a noite com árvores na boca, vou chorar, meu amor: estás a chorar, minha querida: cheia de árvores na boca, estou tão cansada, estou tão cansada, estou tão cansada. falasses comigo para dizeres: o teu cansaço é a tua tristeza, eu a responder que a minha tristeza é o meu cansaço, e os olhos de onde venho também iludem com o poder imenso das palavras, o poder intenso das palavras, o poder mortal das palavras: uma frase, a frase, aquela frase, sabes?: sei, dizes, e eu, minha querida vejo uma superfície nas pessoas que é a aceitação desta história toda, até que essa superfície me diz: não existo, mas vais conseguir e um dia vou ver-te de longe, porque de perto não consigo. como no verso, a noite com árvores na boca, o ar que circula contra o meu equilíbrio, este peso a ser soletrado por uma voz tão doce, minha querida, que me não beija, a voz, ninguém me beija, e no silêncio cheio do espaço de um carro projecto-me para trás, lá onde tudo era a dobrar, até entrar em casa e explodir a chorar, nos teus olhos muito verdes, vinda de outros muito azuis, cheia de árvores na boca, a dizer-te, a querer dizer-te que estou tão cansada, tão cansada, tão triste, eu estou tão cansada.
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