Eu acordo a chorar, em silêncio profundo. Em silêncio profundo. Acordo a chorar com a noite como única memória recente. Nada mais para me afligir; a noite de ontem, apenas, mas tão envolta na sua ausência, a minha noite perdida sem amor, sem braços que amparem a carne que envelhece e que tu esqueces e eu, eu acordo a chorar, em silêncio profundo, em silêncio profundo. Dobro-me toda nas minhas dores que são todas a dor de te não ter, todos eles foram não seres tu, ninguém te ocupou, e ainda há corpos por chegar, eu sei, eu choro em silêncio profundo, em silêncio tão profundo a solidão que sou em todos que não tu e todas as minhas dores de hoje são memórias boas que me flagelam e que não posso expulsar expulsando-me. Eu acordo a chorar no teu silêncio profundo, o tempo passou só em ti, eu estou aqui, no mesmo ponto, onde me situaste, eu estou a sofrer agarrada ao meu corpo que é onde te tenho e a sofrer sorrindo porque recordo-nos. Então, sou a minha dor. Eu não posso seguir em frente, como dizem todas as vozes que são exteriores ao nosso mundo para ti perdido, eu sei que era para ser o que não foi, eu e só eu experimento a revivência gestual de tudo, eu acordo a chorar passem as vidas que passarem, em silêncio profundo, e dentro de mim uma gritaria de sons, um mármore de caminhos nossos, eu não posso partir e puxo pela dor que é puxar por ti. Por isso, digo, calada, magoa-me ficando, assim os anos que fiz de ti o meu ar são verdade, eu tenho de acordar a chorar para o resto da minha vida e magoar-me em todos os corpos que me surjam, porque eu sei, por mais que tu não saibas, que eras tu. És tu, e se me ficas como um tumor é assim que te quero, é assim que te posso, é assim que te choro, em silêncio profundo, em silêncio profundo.
domingo, setembro 17, 2006
Olha-me(nos)
Eu acordo a chorar, em silêncio profundo. Em silêncio profundo. Acordo a chorar com a noite como única memória recente. Nada mais para me afligir; a noite de ontem, apenas, mas tão envolta na sua ausência, a minha noite perdida sem amor, sem braços que amparem a carne que envelhece e que tu esqueces e eu, eu acordo a chorar, em silêncio profundo, em silêncio profundo. Dobro-me toda nas minhas dores que são todas a dor de te não ter, todos eles foram não seres tu, ninguém te ocupou, e ainda há corpos por chegar, eu sei, eu choro em silêncio profundo, em silêncio tão profundo a solidão que sou em todos que não tu e todas as minhas dores de hoje são memórias boas que me flagelam e que não posso expulsar expulsando-me. Eu acordo a chorar no teu silêncio profundo, o tempo passou só em ti, eu estou aqui, no mesmo ponto, onde me situaste, eu estou a sofrer agarrada ao meu corpo que é onde te tenho e a sofrer sorrindo porque recordo-nos. Então, sou a minha dor. Eu não posso seguir em frente, como dizem todas as vozes que são exteriores ao nosso mundo para ti perdido, eu sei que era para ser o que não foi, eu e só eu experimento a revivência gestual de tudo, eu acordo a chorar passem as vidas que passarem, em silêncio profundo, e dentro de mim uma gritaria de sons, um mármore de caminhos nossos, eu não posso partir e puxo pela dor que é puxar por ti. Por isso, digo, calada, magoa-me ficando, assim os anos que fiz de ti o meu ar são verdade, eu tenho de acordar a chorar para o resto da minha vida e magoar-me em todos os corpos que me surjam, porque eu sei, por mais que tu não saibas, que eras tu. És tu, e se me ficas como um tumor é assim que te quero, é assim que te posso, é assim que te choro, em silêncio profundo, em silêncio profundo.
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