Está sempre à procura de fracções de quem não encontra em quem vai encontrando. Há um rosto que tem calor, sem um pensamento que o ampare; há uma inteligência que a fascina, sem a ternura que a aquece; há o dom para escrever, sem o carácter que se quer no poeta dos poemas. Vai amando um ser ideal em fracções dele descontinuadas, loiras, morenas, carecas, às vezes com mau hálito. No meio de um lençol, pode esquecer uma frase absurda se está a criar uma parte vital do seu mito. Passa depois o tempo e com ele vem a visão real do feito e diz que horror ao que quando vivia dizia que lindo. Tanta gente, meu deus do céu, tanta gente, até quem se aflige todo na sua imaturidade. Basta um cenário, basta o clima da ficção, basta uma distância que permita fazê-lo sublime e cai num enredo inadmissível porque sabe bem por uns dias parecer que se está a viver alguma coisa digna de um filme. Do seu filme. Atura tudo: quem declama Pessoa e beija mal; quem é todo emoção e escreve jeito com g; quem fala de forma quase inédita do amor pela namorada para acabar a pedir o seu corpo perdendo a alma; quem na hora de verdade simplesmente cheira mal. Tanta gente, tanta gente, meu deus do céu. Tantas fracções do homem que procura e tanto custo, tanto cuspo. Tanta gente, tanta gente, e este lugar-comum de saber que anda à procura do pai.
1 comentário:
Como pode alguém "ser todo emoção" e escrever jeito com g?
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