O rapaz sentado na esquina da minha rua é suburbano. Acontece-lhe a noite, e o dia não se ocupa do seu corpo. Ele é um detrito da noite. Murmura sempre a mesma frase - por que fiz aquilo, pá? -, e poucos sabem que fala do dia em que não deu conta de que as asas da filha eram mentira e de que ela não podia livrar-se do cheiro a mijo do quarto alugado saindo pela janela.
O rapaz sentado na esquina onde a noite às vezes tem tremores dobra-se todo como uma vírgula,
O rapaz sentado na esquina onde a noite às vezes tem tremores dobra-se todo como uma vírgula,
(e eu penso és uma interrupção?)
suportando a arfar o peso da seringa. Passei por ele e descobri que tem olhos azuis, nnguém diria, não há azul no sujo. Penso em estender-lhe a mão ou falar, gesto ou palavra, nada. Ando a condenar o silêncio e aqui tenho geada na garganta enquanto ele tenta em vão, de olhos revirados, bater uma punheta, morto perante as risadas de três crianças-demónios que lhe apontam o dedo e mostram a língua.
(O demónio, hoje, é uma criança de dedo espetado e língua de fora)
Um dia vou conseguir fazer explodir atomicamente estas paisagens.
(O demónio, hoje, é uma criança de dedo espetado e língua de fora)
Um dia vou conseguir fazer explodir atomicamente estas paisagens.
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