quinta-feira, setembro 28, 2006

Na nossa mesa

Ontem viu um sonho com menos dez quilos. Um mês depois, no local de encontro, lá estava quem sobrevive por acaso de encontro para encontro.
Seria bom ver o seu andar, antes daquela hora, a descer a calçada? E ver o que é a rotina que antecipa o trancar da porta do seu encontro?
Olhou o homem, o nome, a pessoa, sorriu: silêncio. Induz devagar um abraço a quem se inclina por vocação apenas para um beijo.
É aqui que começa mais uma noite de diálogo, primeiro com duas palavras por minuto, cortadas pela respiração do seu cansaço, depois vencedora, apaziguadora de todas as dores. Uma hora depois, estão soltas as nossas gargalhadas, e nem a inevitável conversa sobre a doença do meu sonho com menos dez quilos as interrompem. Naquela mesa, não há fim de noite, não há o próximo mês sem notícias, não há espaço para o espaço da notícia fatal.
De manhã, já não estou à mesa, já posso chorar. Ao mesmo tempo, a força da intemporalidade daquela mesa dá-me a resposta: o que nos salva é não te ver e nada saber de ti até àquela hora.

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