Volto a mim no único sítio em que sou uma paz. Escrevo. Silêncio. Respira-se com alguma dor, com uma má memória fácil de ter sido evitada, das que desaparecem como passageiros enganados no comboio que vai para o campo. Hoje o meu corpo é um mapa. Reflicto nele e no que lhe aconteceu. Da observação vem o silêncio comprometido, há qualquer coisa que me impele para a não-comunicação. Sou este mapa de histórias e queria pedir perdão por algumas, sobretudo pelas mais pequenas, pelas que, sem nome, pesam de mais. Há uma vertigem nesta manhã que parece avisar-me de qualquer mudança. Não sei o que me diga. Não encontro o choro como conforto, hoje, apenas o silêncio e a não-comunicação. A minha vida? É isso que uma pedra que dói neste mapa parece perguntar? A minha vida? Nunca mais é o mandamento que a sala vazia pronuncia. Não faças isso, diz um morto numa moldura. Afinal, não uma lágrima, mas uma humidade nos meus olhos. É o não-abraço desse morto, é o não-beijo do vivo que não conheço, que não chega. E por aqui tanta pele, tanto amor por devolver. Estou com sono, um sono medicado, que me não dá porta para sair daqui. Por isso chega alguém, que tem a delicadeza de gostar de mim, e passa as mãos no meu cabelo com a harmonia oposta à agressão da véspera e eu adormeço para a recuperação. Amanhã. O futuro. Ou o destino. E este mapa que tratei mal. A minha vida. A minha incógnita. A minha pele. O que vou permitindo. Os meus amigos. A minha alegria. Os meus sorrisos em câmara lenta. Eu. E este lugar escondido onde não sou assim: a minha casa.
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