Não quero ser a mulher de oitenta anos que se debruça toda no balcão da farmácia amparando a surdez e as varizes. Não quero perguntar aos gritos pela pomada que começa por "f" ao Senhor João e não saber que uma fila se agiganta na minha corcunda sem piedade do seu próprio futuro. Não quero perder o controlo da cera que espreita e ironiza a surdez, pior, que faz pensar: que nojo. Não quero ser a causa da impaciência de quem anda ao ritmo que quer, de quem arfa e se queixa de velha que não sai dali,
AQUELA CHATA.
Não quero ser uma mulher de trinta anos que também suspirou impaciente, em vez de sorrir perante o único ser amável naquela multidão de velhos adiados que se chama Senhor João.
Hoje a pele serve-me mal.
1 comentário:
Com o tempo, haverá mais coisas que não quererá ser.
O problema é como evitá-las. Nisso, só resta uma alternativa, que é só envelhecer por fora, só deixar que se estrague a embalagem e que se proteja o sumo de laranja ao natural.
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