segunda-feira, dezembro 25, 2006

vício, amor?

pode o amor nascer de um vício? ou: pode o amor ser já esse vício? ou: pode um vício ser amor?
querer repetir é miserável, de pouco que exprime o querer da viciada; quer que a repetição seja só o princípio da pronunciação da próxima vez. transportada nesse momento incerto, não lhe chega a memória aflita da pele a arder; quer, é isso que quer, dar mais, provar mais fundo, ousar como se não ousa, dar-se até ao gesto que o outro se proíbe, menos ali, onde se vê adiada, suada.
pode o amor ser um vício?
tantas histórias de amor, os sintomas todos outros, aqui um pulsar diferente, por ver no outro o mesmo abismo: quem se mata primeiro, meu amor?
pode o amor ser pensar pela boca, pode o amor ser respirar pelo cérebro? não é desejo, porque o desejo não mata os cenários depois dele, e os cenários andam mutilados, aos bocados, uma guerra: uma guerra pacífica, por isso de amor?
querer, querer, querer, em paz, isso, em paz, querer, fazer tudo o que nos seja exigido, por este fogo, pelo outro, por nós, por uma cabeça assim como a nossa, a mesma transgressão, e a paz de se saber um espelho, e a paz de querer o repouso e o verbo naqueles braços: é isso, o amor?
ou: isso também é amor?
mesmo sem a imposição de dar nome a um bicho novo, não sei o que faça com os antigos.

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