vai-se embora só com o dedo indicador, enquanto o homem de 80 anos lhe prende a mão esquerda ao telefone, uma amargura a vida dele, a luta de milhares de contos para a ver perdida na burocracia de um país menos deserto do que ele: morto; vai-se embora, só com o dedo indicador, o coração não descansou desde a véspera, sabe que não viverá muito mais. vai-se embora, assim, a escrever, enquanto 82 rugas lhe falam ao ouvido esquerdo, a dizer de um projecto de uma vida, do qual não se desiste nem depois de morto; trezentos volumes de requerimentos, qual a miséria maior? é secundário. ouve não lhe tiro mais tempo e até à próxima e pensa: - vou-me embora com o indicador comido a 120 batidas por minuto, fora os minutos em que fumo, vou embora não sem antes visitar o abismo de um cigarro e em cada morte inspirada recordar a inspiração do velho que me fala morto pela burocracia.
ela morta por um coração que não tem mais forças para o seu corpo que é todo ele uma cabeça.