sexta-feira, março 27, 2009

dedos

- não me lembro de isto estar aqui, nem isto nem aquilo.
- como não?
- não te via há dois anos.
- como não?
- não dás pelo tempo?
- não dou por mim.
- o que te aconteceu?
- no ano passado lembro-me de um aniversário a dormir.
(reconhecer o espaço que é um pessoa: cabelos, nariz, boca, peito, pernas, cabelo, olhos; reconhecer os movimentos que fazem uma pessoa: uma mão a afastar a franja, o peito a suar sobe desce sobe desce, duas pernas a empurrarem um prazer, o olhar seguro a reconhecer uma mulher)
- estás igual, sabes?
- não dei por nada. dois anos, dizes?
- estás cansada?
- não.
(dar atenção ao tempo naquele quadrado, fazer do espaço um ensaio de tempo, dez unhas a comerem umas costas revisitadas dizem meia noite e meia, mas também dizem um sorriso de três minutos, ou um grito de trinta segundos, muita atenção nos dedos entrelaçados que foi todo o tempo de todos os gestos: as mãos dele)
- eu estava apreensivo e tu foste como que ontem.
(os olhos dela nos dedos embrulhados)
- também eu.
- por que olhas tanto para os meus dedos?
- porque estão livres. porque estão livres.