Tenho cem anos e estou viva.
Tenho 100 anos e estou viva.
Tenho exactamente cem anos e respiro a pensar: ele ainda bate, ele ainda bate, ele ainda bate.
Tenho 100 anos e sobrevivi a todos os ataques e respiro a proximidade da morte sentindo-me viva.
Tenho cem anos e por isso sei que finalmente vou morrer a qualquer momento, mas: ele ainda bate, ele ainda bate, ele ainda bate.
Tenho exactamente 100 anos e os meus órgãos desafiam um passado que se abreviou e não encontro um espelho que me explique este salto para o fim.
Finalmente estou velha, tenho 100, tenho cem anos, penso: vou morrer a qualquer momento, é hoje, estou livre, não me lembro de nada da minha vida, paciência, estou livre, ele ainda bate, ele ainda bate, ele ainda bate.
A minha morte interrompe-se abruptamente por um rosto acamado, de perfil, onde me dói o verbo amar.
A minha mãe ainda está viva.
5 comentários:
Porqu~e tanta dor? Bjo.A.
Ao lê-la corro sempre o risco de ficar sem tapete.
Cem anos de solidão sinto ter também,`as vezes...
gostei do texto.
e enquanto ele bate é preciso aproveitar, seja aos 100 ou aos 20. nca se sabe qdo poderá deixar d o fazer.
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