domingo, setembro 28, 2008

Exposição de pintura de Zé lourenço


No dia 15 de Outubro, pelas 16h30, na Sociedade de Geografia de Lisboa, inicia-se a exposição de pintura de Zé Lourenço, que decorrerá até dia 19. É imperdível. Tem de se ir cedo, porque em cada dia encerra às 18h. Coube-me escrever umas palavras sobre os quadros em questão e são as seguintes:


A Cidade Regressada
Isabel Moreira

O conjunto de quadros em questão, feitos em técnica mista acrílicos e óleos sobre tela, subordina-se ao tema A cidade regressada. Concretizando, há, em todos eles, uma predomínio do observador próximo dos ângulos, das cores, das fissuras, das geometrias do urbano, aqui e ali assumindo-se aquele como voyeurista de espaços interiores, que por sua vez são eles mesmos interiores de outros – o que aprofunda um olhar quase impossível no quotidiano urbano –, até as tonalidades da proximidade do olhar se poderem perder no limite do céu, que é também o limite natural do urbano respirável.
As fronteiras dos elementos arquitectónicos têm uma analogia perceptível com a complexidade do pensamento, também ele labiríntico e multicolor. É nesta perspectiva analógica que o olhar sobre os quadros é de sobrevoo, isto é, como que o espectador é convidado a perder a gravidade e a planar sobre as imagens, como acontece com o quadro em que uma lua transparece num céu de edifícios em vez de um céu de nada.
Num certo sentido, os quadros poderiam estar deitados no chão e o espectador deitado sobre os mesmos a uma curta distância sem o peso da gravidade. Esta, a gravidade, só não salva - pela força analógica dos espaços cruzados, quadrados, aflitos, uns dentro dos outros - a vida interior de cada um, que se projecta de imediato para cada uma das telas, e nelas se perde, porque a vida de cada um é, como aquelas linhas, intrincada, infinitamente sujeita a aprisionamentos imprevistos e labirínticos.
Numa palavra, ainda que sem gravidade, quem vê estes quadros, se não cai, não pode não se ver neles mergulhado, fazendo retrospectivas e prospectivas da sua própria vida pensada.
Há, pois, aqui uma tese. A cidade regressada é o urbano visto pelo olhar interior, que sendo complexo é ele também urbano e assim (des)configura uma nova forma de ser cidade.