está escuro. a voz que escuta com mais atenção surge-lhe num corpo colado ao dela, que se dobra como dentro da mãe. começa a chorar uma solidão de vinte anos. chama pela voz que escuta com mais atenção.
- não o queria acordar.
- isso é irrelevante.
- são vinte anos a ouvir essa voz e eu preciso tanto dela aqui e agora a sufocar-me com braços e pernas, a não permitir uma desintegração.
- eu gosto muito de si, muito, isso não é uma consolação?
- é, há vinte anos que a voz que escuto com mais atenção é uma consolação, mas a solidão infectou-me os ossos, a pele, a cabeça, agarre-me, passe-me as mãos pelo cabelo.
- eu não conheço esses gestos.
- e se eu morrer antes de a sua voz morrer?
- é esse o meu medo. mas não se morre quando se é amado.
- por uma voz.
- por esta voz.
- não o queria acordar.
- isso é irrelevante.
- são vinte anos a ouvir essa voz e eu preciso tanto dela aqui e agora a sufocar-me com braços e pernas, a não permitir uma desintegração.
- eu gosto muito de si, muito, isso não é uma consolação?
- é, há vinte anos que a voz que escuto com mais atenção é uma consolação, mas a solidão infectou-me os ossos, a pele, a cabeça, agarre-me, passe-me as mãos pelo cabelo.
- eu não conheço esses gestos.
- e se eu morrer antes de a sua voz morrer?
- é esse o meu medo. mas não se morre quando se é amado.
- por uma voz.
- por esta voz.
- não morra.
- sobreviva.
- venha viver comigo.
- eu vivo num país que não existe. e numa casa que também não existe.
- está a doer menos. sabe? alguém pediu pela minha palavra.
- a sua palavra é o seu poder. o seu caminho. o de uma alegria cheia de lâminas.
- venha viver comigo.
- eu vivo num país que não existe. e numa casa que também não existe.
- está a doer menos. sabe? alguém pediu pela minha palavra.
- a sua palavra é o seu poder. o seu caminho. o de uma alegria cheia de lâminas.