um dia ela estava como uma balão por soprar e o escritor escreveu-lhe talvez a ternura nos salve. ela explica-lhe que são quase dois mil dias de balão por soprar, essa coisa de já não amar mas de ter a imagem tão certa do que foi isso, mesmo que lhe digam talvez ficciones o passado, tanto faz, são quase dois mil dias de balão por soprar, e lá atrás havia um poema de manhã, sempre, ou muitas vezes, colado no espelho da casa de banho. de noite havia um veludo escurecido pelo tempo, não era só genética, umas costas que olhava depois de adormecidas para falar com elas e dizer-lhes tão-só obrigada. são quase dois mil dias de balão por soprar, mas talvez a ternura nos salve, de certeza que a ternura nos salva, diria, porque as pernas sabem do ofício de andar, não desistem. são quase dois mil dias, são, mas a ternura talvez nos salve, por exemplo numas mãos que deslizam a construir a palavra ternura numa pessoa que nos diz como estás? é muito.