Ela às vezes olha para o lençol e diz-se assim: que cansaço. Ela às vezes apaga aquele cansaço com uma noite a sorrir. Nessa noite a sorrir não está só, como estava na noite do lençol com quatro meias perdidas, por ali. Que cansaço. Nessa noite, a sorrir, encosta a cabeça numa cintura que tem mais de trezentos dias e ampara no colo a cabeça com um cabelo que já foi mais curto, mais comprido, mais curto, mais comprido. Respira devagar e a ansiedade da memória da véspera vê-a derreter-se num gelado que não comeu, porque ela às vezes olha para o lençol e diz-se assim: que cansaço. Há um perfil que não sabe que tem o perfil que lhe empresta o olhar dela, vira-o de frente e atira-o para trezentos dias antes, numa cadeira um em frente ao outro, apenas para recordar um olhar que foi tão sorvedor que fez de mãos, ali, numa sala ao lado -lembras-te?Respira um pouco mais depressa e depois entrega-se ao silêncio, com a boca muito seca, por isso é que respirou por instantes mais depressa, é que ela à vezes olha para o lençol e diz-se assim: que cansada.