segunda-feira, outubro 22, 2007

J.

A frase:

- és tão alegre
.

Depois lembrou-se de um texto antigo: você tem um potencial de alegria deslumbrante, mas todos os dias mata a sua felicidade. Nesse texto, reproduzida, a voz que escuta com mais atenção.

E de repente, tantas alegrias mortas, tantas mortes passadas:

- és tão alegre.

No seu silêncio, a escutar a frase, uma contenção violenta para não explodir a chorar. Ou para não assustar aquela boca de sabedoria instintiva dizendo: se tu soubesses a alegria que me dá dares pela minha alegria. Porque de repente sou eu, de novo, assim: tu a fazeres de espelho num lençol desgastado. Entendes isto? Se tu soubesses da missa metade, mas não sabes, pouco importa, estou tão cansada de contar de me contar de contar-me e depois nada, psicologias suadas, inúteis, presunçosas e a falta que afinal me fazia quem antes de saber dessa falta diz de repente:

-és tão alegre.

2 comentários:

Manuel Bruschy Martins disse...

Esse "texto antigo" é uma obra de arte e a frase poderosa. Não ser alegre é natural, mas é sempre bom estar-se alegre e que os outros nos sintam alegres. Mas contam-se pelos dedos as vezes que nos contamos aos outros. Principalmente porque há sempre mais de alegrias mortas para contar. Melhor mostrar a alegria, no estar-se alegre. Que nos contem alegres, se nós mesmos não o fizermos.

Anónimo disse...

É curioso (não sei se sabes... mas) geralmente encontro-te alegre.

Melhor do que isso, consegues com uma enorme facilidade transformar a nossa triteza em alegria e fazer-nos rir com força, com espontaneidade.
És generosa e a tua presença alegria.
Obrigada por nós, obrigada por elas.
até breve V.bigos