de manhã, o silêncio chama-se contenção. à hora do almoço, o peso do silêncio finalmente parte-se. consegue. chorar.
dá com o evagelho de hoje. lembra-se de quando era seguidora.
lê:
Evangelho segundo S. Lucas 9,57-62.
Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que
fores.»
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o
Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.»
E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro
sepultar o meu pai.»
Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti,
vai anunciar o Reino de Deus.»
Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me
despeça da minha família.»
Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado,
não está apto para o Reino de Deus.»
Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que
fores.»
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o
Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.»
E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro
sepultar o meu pai.»
Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti,
vai anunciar o Reino de Deus.»
Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me
despeça da minha família.»
Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado,
não está apto para o Reino de Deus.»
termina a leitura. recorda-se das interpretações que salvavam o texto.
sente uma vaga náusea.
e regressa ao silêncio.
10 comentários:
As interpretações de que se recorda esta ex-seguidora não salvavam o texto: salva(va)m os que nele crêem, os que nele procuram uma forma de reger a vida e encontrar consolo. E para muitos é a derradeira CONSOLAÇÃO. Não salvam, aqui, da náusea, do silêncio. As palavra têm o poder que têm, ou que as pessoas querem que tenham.
Como sempre, obrigado pelo prazer da leitura.
Ainda bem que as "interpretações" salvam o texto!... Realmente não pode seguir-se à letra. Preocupa-me é que esse CONSTANTE exercício não esteja, certamente, ao alcance de todos. E preocupa-me o aparente alheamento dessa urgência de clareza pela Igreja e por tantos fiéis (Sim, porque a Igreja é feita de pessoas). Afinal, não é só o Antigo Testamento (A.T.) que carece de interpretação. Mas, 2007 anos depois da vinda de Cristo à Terra, impressiona verificar que este ainda é lido e escutado de fio a pavio em todas as Eucaristias. Jesus veio ao Mundo exactamente para deixar-nos um mandamento NOVO: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei". Em linguagem universal, isto significa a "abolição" do A. T. e do "olho por olho, dente por dente"! Quantos anos mais serão precisos para perceber esta incoerência na leitura diária destes escritos? Será possível que, entre tantas cabeças pensantes e almas iluminadas, ainda ninguém se tenha lembrado de actualizar a mensagem de Cristo com exemplos ACTUAIS de santidade? Para quem acredita que Deus está VIVO e nos fala todos os dias, por que razão terá hoje a sua voz (através de vidas impressionantes como Madre Teresa de Calcutá, S. João Bosco e S. Francisco de Assis, por exemplo) menos importância que há 2007 anos? É a mesma voz! É a mesma mensagem! Alguém me explica como será que se pretende cativar jovens que vêem os "Morangos com Açúcar", escrevem com "k's" e falam em português de 6ª geração (repleto de "bués" e imensas "cenas e assim") com as eternas histórias de "N'Aquele Tempo", sinagogas, cenáculos, redes de pesca, barcos, cenáculos e parábolas? Será que Deus não pode falar-nos no "Shopping", no Chiado ou numa aula de "Body Balance"? Acho que é preciso acordar urgentemente desta inércia, pois a missão é e será sempre só uma: salvar almas. Get Real!
Escreva, escreva...não deixe que a sua pena se canse. Tenha, porém, a noção de que não há consolação suficiente no mundo para quem escreve.
Parabéns pela sua escrita.
Náusea mais que justificada.
Muito obrigado, pela sua visita, pela simpatia do comentário.
A forma como explora a dor é maravilhosa... como a agitação das ondas num dia de tempestade. Cada rebentar é um suspiro de busca de paz. Cada onda autodestrói-se. Depois vem a magia do silêncio que nos sussura no ouvido: «SÊ!».
O silêncio sonoro é o mais difícil de suportar! E de explicar! Porque o silêncio requer filtros de que nem sempre estão ao nosso alcance!
Sou adepto intrépido do SILÊNCIO! Só funciono com ele - o Silêncio!
Um grande beijinho!!!
Sinto-me no dever de comentar. Se as fases más todos as sentimos, e as dores a todos nos rasgam, ainda que tantas vezes não de fora para dentro, mas de dentro para fora, também o aprazível assim deve ser intitulado; o aplaudível deve ser louvado; este blog deve ser elogiado - não por um mero exercício de polimento, mas por uma cumplicidade de quem se identifica na dor, mas não poucas vezes a deixa rasgar o corpo que é nosso, por não ter tal dom de escrita. Os meus sinceros parabéns. Não pela capacidade de assim escrever, porque a ilusão da cura pela escrita não passa disso mesmo, mas pela construção de um monumento artístico que é este blog - para quem o percebe, seja de que maneira for.
pedro.
É uma passagem muito bonita do Livro Sagrado. Mas eu gosto de a ler como uma mensagem de força. Os mortos a Deus pertencem, o facto de querermos ficar presos à sua memória acaba por se um acto de egoismo...e um egoismo que dói.
"Um acto de egoísmo"?
Sim, o facto de dificilmente aceitar-mos a Morte e querer-mos ficar eternamente agarrados a uma memória revela a nossa dificuldade em largarmos as coisas quando é altura de as largar...
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