As unhas amarelas da lixívia agarram o canto de uma janela que fica no canto de um prédio caro. Estranhamente é a sua casa nova. A mulher da ilha de São Vicente tem uma casa nova e diz-me adeus sem som algum. Talvez tenha escutado na distância dos meus passos o rasgar do seu sorriso, por uma vez o pano de pó limpa uma sala que sei sua e no centro de Lisboa, cara, não sei como conseguiu aqueles vizinhos. As unhas amarelas da lixívia são de uma senhora transportada do Barreiro para aqui, ela própria um subúrbio, abrem-se dezoito janelas em seu redor e gente com madeixas loiras pensa que a mulata é a criada de uma nova inquilina e não ela a nova inquilina. Levo pão, queijo e uma garrafa de espumante. Não se faz por enquanto som algum, insisto. Desisto, por segundos, de ir ao seu encontro, para fazer do seu sorriso e do meu, a cem metros de distância, o nosso encontro. O vento rouba-lhe o cabelo alargando-lhe o sorrido, acena-me com a mão e eu retribuo.
Eis uma mulher rodeada de janelas a fazer-se uma janela.