quinta-feira, janeiro 15, 2009

s. t.

o piso estava molhado e o carro ganhou vida. acabou num buraco, varrida a auto-estrada e caída numa encosta a 120 km/h. tudo se partiu e morreu naquele carro. menos ela que insiste em sobreviver. saiu do carro reduzido a metade e a arriscar um incêndio, trepou a montanha e aguardou deitada pela ambulância: eu, eu ,eu.
as dores de cabeça intensas, duas feridas no corpo e os músculos desenhados por dez dias a dizerem: tu, tu, eu, eu.
a morte passa-lhe ao lado mais uma vez. há uma voz familiar, feminina, que está a ficar velhinha e que se não conforma que ela não tenha meditado sobre o facto de Deus, deus, ter escolhido que o fim não fosse a sua morte.
passam muitos dias. a casa continua preta, como escolheu. o corpo continua quieto, como vem escolhendo.
- isto não pode ter continuação.
- eu sei.
- já passaram dois anos, acho.
- faz o que quiseres.
- tenho de ir, um horror esta pressa.
- não faz mal, é bom fingir que se é de alguém por um bocado.
(estes meus músculos doridos)
a noite chega e o preto do céu entra pela janela e casa-se com a casa preta.
(entra o amigo)
(sai o amigo)
- vai embora, antes que me doa ficar só numa casa enorme.
- enorme és tu.