Na Travessa da Infância
Onde seguindo os rumores dos autocarros
Olhei pela primeira vez o mundo
(José Tolentino Mendonça)
Entram-nos novos olhos pelas esquinas e não entendem a tristeza ou avisam-nos do egoísmo dela. Escondemo-nos numa sala nova, cheios de sorte, o sol muito intenso, livros por ler, e o oratório de natal de bach a fazer coisa nenhuma aos nossos sentidos. É muito difícil explicar aos novos olhos que dói muito ter uma dor que se tem porque se nasce com ela, porque, como já se disse, o mundo nos bate à porta, mas não entra, eu não consigo.
Quando há uma trovoada de palavras a dizerem-nos a causa da nossa alegria esperada, a dor dói mais, mais ainda, porque nós sabemos que na linha de cima da vida temos tudo e que esta dor só se explica numa linha nos subúrbios do traduzível, onde uma infância amedrontada numa pele mal vestida tantos anos, um desamor quando começou a palavra eu, uma solidão nas mesas com uma família de dezenas de pessoas, a tal sorte que nós temos, esta dor é assim. Tudo o que temos por que tantos dariam dá à dor uma nódoa de culpa, de culpa, e assim se vive num cilindro dentro de outro maior cheio de sorrisos e de amor invejado e nós no nosso cilindro de dor e de culpa e, claro, de medo, essa besta. A infância pode ser um quadro móvel, a mesa de Natal no dia 25, uma mesa feliz, que sorte a nossa, mas os anos levam-nos as pessoas, e Deus também, que ficam com o nome de mortos, pendurados nos nossos corpos, e hoje vê-se aquela mesa com os sons feitos ecos, porque de memória, e há uma mão que não agarra o sal que lhe passam porque morreu, essa e outra mão; a mesa da nossa infância, ao longo doa anos, vai ficando cheia de sombras, os nossos mortos, que surgem com muita força no Natal. É por isso que o dia 25 de Dezembro tem de bom apenas a promessa de um 26, é por isso que quem tem uma dor que nasce consigo e vive em cilindros de medo desequilibra-se até à quase loucura nesta época em que o trânsito, as luzes, ou os apelos na rua são apenas os gritos dos mortos que desocuparam as mesas da nossa infância. Para as ocuparem, hoje, como nunca.
Quando há uma trovoada de palavras a dizerem-nos a causa da nossa alegria esperada, a dor dói mais, mais ainda, porque nós sabemos que na linha de cima da vida temos tudo e que esta dor só se explica numa linha nos subúrbios do traduzível, onde uma infância amedrontada numa pele mal vestida tantos anos, um desamor quando começou a palavra eu, uma solidão nas mesas com uma família de dezenas de pessoas, a tal sorte que nós temos, esta dor é assim. Tudo o que temos por que tantos dariam dá à dor uma nódoa de culpa, de culpa, e assim se vive num cilindro dentro de outro maior cheio de sorrisos e de amor invejado e nós no nosso cilindro de dor e de culpa e, claro, de medo, essa besta. A infância pode ser um quadro móvel, a mesa de Natal no dia 25, uma mesa feliz, que sorte a nossa, mas os anos levam-nos as pessoas, e Deus também, que ficam com o nome de mortos, pendurados nos nossos corpos, e hoje vê-se aquela mesa com os sons feitos ecos, porque de memória, e há uma mão que não agarra o sal que lhe passam porque morreu, essa e outra mão; a mesa da nossa infância, ao longo doa anos, vai ficando cheia de sombras, os nossos mortos, que surgem com muita força no Natal. É por isso que o dia 25 de Dezembro tem de bom apenas a promessa de um 26, é por isso que quem tem uma dor que nasce consigo e vive em cilindros de medo desequilibra-se até à quase loucura nesta época em que o trânsito, as luzes, ou os apelos na rua são apenas os gritos dos mortos que desocuparam as mesas da nossa infância. Para as ocuparem, hoje, como nunca.
2 comentários:
Votos atrasados de feliz Natal e de um ano de 2008 (nunca sei o que desejar! Fica assim!
Abraço
Votos de um feliz 2008.
Um abraço
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