Ainda a primavera tão longe e pareceu-lhe sentir uma andorinha no novo parapeito da janela. Dirá: foste, tu, talvez. Ou: és tu, com olhos de azeitona.
Deitou-se no chão muito cansada e ouviu a voz desaparecida: hoje o teu medo é regressar ao medo, minha querida. Respira, respira, respira e não tenhas medo do medo. Esse teu corpo a tremer e essa tua vontade de gritar agarrada a uma fotografia é uma pequena queda num movimento que se dirige a uma promessa. Obedeceu, muito quieta. Agarrou tremendo um cigarro e um copo qualquer e chorou enfiada na pele dela, que dor a sua dor, que difícil não enlouquecer quando sente aquele abandono, quando refaz com o próprio corpo os gestos do outro corpo, muito só, com cigarros trémulos, também. Diz na sua boca a frase que já foi dela: eu sem ti ficaria sem um braço.
(dizemos a frase ao mesmo tempo: uno o som dessa tua frase de há anos ao som da mesma frase agora minha e pergunto: como faço para viver sem um braço, minha querida?)
Depois falou dessa voz desaparecida a uma pessoa que é verdade
(parece-me que ontem quem nunca te viu deu pelas tuas mãos pequeninas).
Foi uma andorinha, minha querida, uma primavera a entrar por aquele parapeito, a aterrar na minha almofada e a transpirar sem demónios na pele. Talvez não tenha dado pela contenção dos meus olhos, mas pousou a cabeça no parapeito do meu peito, senti o peso exacto na minha respiração e nem uma grade, minha querida, nem uma grade.
Deitou-se no chão muito cansada e ouviu a voz desaparecida: hoje o teu medo é regressar ao medo, minha querida. Respira, respira, respira e não tenhas medo do medo. Esse teu corpo a tremer e essa tua vontade de gritar agarrada a uma fotografia é uma pequena queda num movimento que se dirige a uma promessa. Obedeceu, muito quieta. Agarrou tremendo um cigarro e um copo qualquer e chorou enfiada na pele dela, que dor a sua dor, que difícil não enlouquecer quando sente aquele abandono, quando refaz com o próprio corpo os gestos do outro corpo, muito só, com cigarros trémulos, também. Diz na sua boca a frase que já foi dela: eu sem ti ficaria sem um braço.
(dizemos a frase ao mesmo tempo: uno o som dessa tua frase de há anos ao som da mesma frase agora minha e pergunto: como faço para viver sem um braço, minha querida?)
Depois falou dessa voz desaparecida a uma pessoa que é verdade
(parece-me que ontem quem nunca te viu deu pelas tuas mãos pequeninas).
Foi uma andorinha, minha querida, uma primavera a entrar por aquele parapeito, a aterrar na minha almofada e a transpirar sem demónios na pele. Talvez não tenha dado pela contenção dos meus olhos, mas pousou a cabeça no parapeito do meu peito, senti o peso exacto na minha respiração e nem uma grade, minha querida, nem uma grade.
1 comentário:
Oi Isabel,
Sente-se neste teu texto a dor dela, como se a que sente na pele entrásse na nossa.
Sei o que é viver sem uma parte de mim, maior do que um braço, pedaço de coração arrancado à força e levado para longe.
Sei dos momentos do cigarro e das fotografias.
E também já senti o chegar das andorinhas da aurora, que nos mostram que o mal pode ser expurgado, deixando-nos a alma mais leve, e que pela acção do tempo conseguimos ser mais livres, apesar das perdas desta monta não serem susceptíveis de serem esquecidas.
Obrigada por me permitires o comentário e pela beleza dos teus textos.
Stella
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