segunda-feira, março 19, 2007

o espaço que fica de onde se parte

parece-lhe por estes dias que todas as perdas são ecos do teu adeus, até perder um autocarro dói, uma frustração a construir uma úlcera, e tanto medo a cobrir movimentos, que medo de atravessar a rua, pensa;
nunca desistirá dela, nem mesmo no dia em que se olha no espelho e vê uma memória apenas, ou menos que isso, ou mais do que isso, as perdas todas a fazerem a curva do seu ombro, a ligeireza dos seus braços, os ossos postos a descoberto quando inspira. nunca dirá chega, isso vêm dizendo tantos, uns passos apressados nas escadas da sua casa, às vezes passos que se tornam domésticos, a prometerem um sorriso, uma esperança, uma pessoa;
sempre se silenciam os passos, fica só um espaço mais abrangente para se chorar, o espaço onde afinal nada, mais uma vez, aconteceu. talvez te pudesse explicar que (sobre)vive-se melhor a arranhar a pele aqui e ali sem promessa alguma que a deixar alguém visitar-nos o avesso da pele, para depois partir, e recordar-nos com violência que somos o que somos e que nada nos salva, ninguém nos salva, ela é uma história de abandonos e derrotas, e às vezes esquece-se de que está sempre em si, e nunca no outro, a saída do inferno.

1 comentário:

Alexandre disse...

Por mim penso que vivo de pequenas realizações, por mais insignificantes que pareçam aos olhos dos outros, nem que seja ir ao correio e enviar aquela carta que estava para ser enviada há tanto tempo mas que alguma inibição fazia com que não a levasse...

Para mim essa é a diferença entre a saída do Inferno, que pode estar tão perto, ali mesmo ao lado, mas por inoperância não a encontramos... feitos simples podem ter resultados enormes...