sábado, março 17, 2007

um dia vou ser mais velha do que tu

distribuir a tua imagem pelas imagens muito tuas, atravessar uma lente, como que pondo o teu rosto sob análise, aqui de afectos, hoje as rugas que no Verão passado descobri, pequenas, a nascerem em redor da tua boca, uns traços quase invisíveis, não para mim, que te olhava vendo-te, é assim que se ama, dir-te-ia agora, ao que tu responderias:
- és tão tu.
vi esses riscos muito submergidos na juventude absurda que era o teu espectro, e pensei que estava ali o anúnicio dos cafés dos Verões de anos à frente, sentadas nas mesmas cadeiras, e então olharia para cortes vincados a empurrarem-te os lábios gretados e confessaria:
- sabes que há vinte anos vi a tua velhice anunciada?, ao que tu responderias:
- és tão intensa.
agora estou aqui sem ti, e às vezes apetece-me não ter cuidado algum com as palavras e dizer como aceitavas sempre que eu dissesse, o mundo é fodido, só que o digo a chorar, porque serás sempre nova, tinhas mais oito anos do que eu e um dia vou ser mais velha do que tu.

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