que
tu entrará na porta que abrirei?
hoje não espero já que esperes veres-me
que tenhas essa alegria inquieta: ver esta mulher a entrar e sentires em mim a palavra
tu.
vagueias a poucas distâncias de mim e é tanta a tua emigração
(de mim apenas)
que já não estou ansiosa.
uma raridade a tristeza ser uniforme, ter a densidade disso mesmo, e assim matar não a alegria que me darias, mas a ansiedade que me mata a espera pela alegria perdida.
estou triste. tão triste que talvez acabe o dia a dizer
sou triste.
eis que te vejo: uma recordação limitada pelo perímetro do teu corpo; o teu sorriso geometricamente idêntico ao dos dias em que me esperavas, mas nada de verdade nele, ou tudo finalmente de verdade nele.
estou triste. tu também me pareces triste, mas a tua tristeza não tem a única consolação que (me) poderia transportar: haver nela a minha ausência.
como estás?, perguntas. teres de perguntar
como estás decompõe a minha memória – lá atrás, tu a dizeres-me
estás tão tensa -, e saio da enorme distância do teu abraço a conter a choro que seria perfeito. num outro dia.
hoje, não me resta(s) nada.