segunda-feira, fevereiro 12, 2007

vê-me III

eu sei que vens cá hoje de noite, assim com o dia nascido
inesperado
o dia assim nascido e o gesto que um sinal de trânsito poderia ter
condenado
eu sei que vens cá hoje noite, e parece-me um pouco salgada a tua visão

(vou mudar de registo)

eu não sei se me vês, aqui sentada a escrever sobre os teus olhos talvez salgados de espanto. eu sei que me comove a recordação do mistério de um vestido branco, feito em vestido cinzento e finalmente a pele que agarra todos os vestidos que entrem comigo nessa porta.
eu não sei se me adivinhas aqui sozinha, se sabes que sabe bem por algumas horas criar um espaço onde parece mesmo que nos aconteceu uma pessoa. eu sei que vens cá hoje de noite e estou aqui, um pouco febril, num tempo estranho em que um pecado me salva.

não perguntemos mais nada, colhe a véspera e nela colhe o dia de hoje, porque eu sei que vens cá hoje de noite; não questiones uma regra que seja porque eu preciso que a minha solidão te comova e que a memória se mexa devagar na tua cruel circunstância; não te escondas, telefonando, eu não temo o teu silêncio, eu entendo a gritaria do teu cérebro, eu sei da aflição pendular desta transgressão.

mas entretanto, mas entretanto, mas entretanto,
meu amor inventado,
passa por aqui depressa

(não temas, não teimes, não tremas)

e permite-nos terminar um quadro.

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