domingo, maio 23, 2010

almofada verde

seria bom que me ligasses, tu e só tu que me podes tratar por tu e dizes assim:
- como está?
então, dir-te-ia que fiz aquele esforço, aceitar as pessoas ou uma pessoa na sua simplicidade, não querer que ela saiba do que tu sabes, do poço enorme ao qual descemos, do que significa dizermos amor, deus, morte ou proclamarmos, sem o peso da esperança, one of this beautiful nights.
-como está?
então, dir-te-ia que hoje uma vida inteira, acontece-nos muito, não é?, o dia está um carrasco, saí uma vez por causa do tabaco, nuvens e calor, não consigo mover-me daqui à minha praia, vejo sempre o carro cair numa ravina, merda de memória tão viva, do que aconteceu e do que não aconteceu, eu queria uma coisa muito simples, saber se ali, naquele sítio exacto, estariam apenas dois corpos e pegadas de gaivotas ou mais algumas pessoas como nós, que sabem daquilo, e o mar não tem nada que saber, hoje está com um ondulado largo, bom para me perdoar o peso.
fica para outro dia.
-como está?
estou aqui, N. o dia é esta almofada daquela cor do hotel de Faro.