diante dos seus olhos, os olhos familiares a cuspirem a palavra que mata, que é a que nos faz confirmar a suspeita que se havia confessado à mulher sábia: eu amo quem não me ama. a palavra desenha-lhe o corpo em muitos anos abafados através de uma garganta jovem, bonita, hoje castigada de veias de ódio a dizerem-lhe: tu não tens o direito de ser assim, que é como quem diz: tu não tens o direito de ser. invoca-se o passado da agedida para agredir e consegue-se agredir, e é nesse instante que o sangue de cristo que nos amou desde há 25 anos pode ser puxado por um cano de esgoto. os pulsos dela estão cortados por mãos alheias, as mesmas que lhe ampararam a cabeça, lá atrás, quase morta. essas mãos, hoje, são jovens, têm botões de punho, vivem com medo do medo dos outros, do que os outros vão dizer-lhe à conta dela, e por isso não estão a cuidar dela, mas delas, das mãos que se descobrem nos novíssimos botões de punho, das mãos que hoje ameaçaram bater numa mulher.