terça-feira, novembro 13, 2007

Os seus dedos aventuram-se trémulos no teclado. O peso dos sonhos, mesmo os não recordados, dizem-lhe é hoje que te não aguentas. Frases, músicas, choros, sorrisos dela são o estuque deste tremor. Penteia-se ao espelho e imagina a perplexidade alheia: tão nova, tão bonita. Minha querida, por quê?, pensa. Tem um remoinho no centro da cabeça que puxa pelas lágrimas de fora para dentro, as sombras estão no lugar, a chave do carro dita a luta de sempre: um dia por cumprir. Sem enlouquecer. Os corpos todos já não amparam tanto medo físico, chegou o dia em que o peito esmagado por outro não se dá por vencido, nem por quinze minutos. Sim, sim, claro, diz, que interessante, diz, e por dentro a gritar desaparece porque estás a diluir-me. Fica para ali cheia de humidade sem dono ou sem intenção ou sem amor. Na noite anterior, numa estrada ondulada, deu pela sua solidão, não como sempre, mas num tiroteio que a conduziu, silenciosa, até à morte de tudo isto que é dizer boa noite. A invenção do amor é o poema que referencia uma nova manhã.
Pode ser que ninguém dê por tanta pele amedrontada. Pode ser que ao entardecer um sorriso tenha a generosidade de um sentido.

2 comentários:

P disse...

Já há muito tempo que não passava aqui. Demorei-me, como sempre.
Abraço
P

cljp disse...

Sem dúvida um dos meus blogues de eleição. Já regressei aqui várias vezes mas fico, muitas delas, tolhido de uma tristeza quase viciante. Muito, muito bem escrito.
Um abraço