segunda-feira, março 30, 2009

lobo

chegou ao fim, finalmente. sábado de manhã o seu corpo perdeu as forças. a sua inimiga indegolável defendeu-se e fez-se em células, para dormir, dormir, dormir. nos sonhos o homem é um lobo, pergunta por ela à sua mãe, quer saber, como é que está a sua filha?, depois mistura-se com a face do criminoso, inala uma linha de coca, o lobo que a matou, volta às vestes do criminoso, pousa na sua cama e sorri, e mata-a, como todos os lobos, também ele nos diálogos passados com pele de cordeiro, antes de ser lobo, lobo mau, lobo mau, onde vais, onde vais?
vai para a casa da sua infância, janta na cozinha, olha de lado a gravata do pai, encolhe-se toda na sua dor, pensa que partilhou tanto, mas não as sua bulas perdidas na gaveta, a sua doença, olha de lado a gravata do pai, que é como quem diz o colo do pai, vê o pai pestanejar enlouquecido com a sua morte, começa a chorar, lobo mau, lobo mau, foge para a copa,
mãe, desculpa, esta dor que nasceu comigo, mãe, abraça-me para sempre, esta dor que ninguém conhece, mãe, socorro, o meu cancro foi acordado, lobo mau, lobo mau, deixa-me adormecer, adeus, mãe, adeus, mãe, o problema não é o lobo, é o que o lobo me recorda, mãe, mãe, mãe.