segunda-feira, agosto 09, 2010

telefone

correu as ruas todas em redor do seu ofício: um pretexto, uma manicure ou manicura, ou como é que se diz, sabe lá, qualquer coisa que lhe beliscasse o corpo, talvez pelas cutículas lhe saísse o medo, antes que o medo vingue em terror; não tem hora marcada nem sabia que havia tanto sítio para limar as unhas nas ruas em redor do seu ofício, só com marcação, ouve, mas como se marca o final de uma dor?;
andou, andou, não pode correr, como lhe bate o coração e lhe sua o corpo inteiro, recorda-se de um cigarro e logo a seguir da memória do medo aumentado por um cigarro junto ao danúbio, olha para o cigarro e tem pena que não haja vício que lhe valha;
ou há?
- o que faz sem falar é um vício?
não, não;
sabe apenas que diz sempre que haverá o dia em que se lembrará deste dia, que se soma a tantos, mas quando vive uma das somas não aguenta nem mais um e resiste à salvação do telefone, dos números que sabe na ponta dos lábios ressequidos, nove, um, começa, desiste, deita o corpo no sofá que ficou em casa e despede-se de quem nunca se foi embora num pedido de perdão aflitivo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mto bom. Queremos mais.

Carlos F.