domingo, outubro 26, 2008

Inferno

pensava que conhecia o inferno, mas estes anos todos andou pelo purgatório. sabe o que é um ataque, sabe o que é quase morrer, mas o seu corpo estava sempre encostado a qualquer coisa, e nunca cegava. era atirada sem piedade contra paredes cobertas de espinhos, mas as paredes são condição de espaço, e por isso ela estava ali e via dali.
- estou péssima: eis o anúncio do início da semana
- é uma fase, isso passa.
chegam os três dias temidos e entra num não-lugar; tudo é dor e chamamento para morrer imediatamente, antevendo os cerimoniais em todos os seus sons, em todas as cores dos tecidos deles. não há esquinas, não há paredes, não há onde amparar o corpo para ganhar perspectiva e cega-se. há, o que é violentíssimo, gravidade, mas não cai num qualquer chão, não choca com nada, quando a dor insuportável a faz circular a alta velocidade e lhe dita morre imediatamente. não há qualquer apoio, ponto de chegada ou ponto de partida.
(a dor em infinita vertigem).
grita mãe, mãe, mãe, esmurrando a cabeça, até a mãe aparecer. ao fundo, o olhar seguro do homem que veio de avião em seu auxílio. não chega. chora muito alto, agarra-se à barriga da mãe e quer muito entrar lá dentro para começar tudo de novo.