terça-feira, novembro 07, 2006

Vê-me II

eu sei que vens cá hoje de noite. eu preciso que venhas cá hoje de noite. que me leias: que me vejas. que história tenho para contar se não a não-história que é conhecer-te inteiro numa intuição que desconheço? brinco com as palavras?
- você é uma provocadora.
- nem sempre.
há um mistério na tua presença que só encontra analogia numa melodia que ouvi pela primeira vez numa costa assustada por nevoeiro. límpida, no entanto, esta vontade, leve, de falar, de falar-te. não: de ouvir-te. como hoje:
(eu estava ali a ouvir-te acalmada pelo teu som não sei por quê, talvez porque me causes uma ansiedade que derrota a ansiedade dominante, a que magoa. eu estava ali a ouvir-te e questionei todos os teus gestos, decifrei cirurgicamente os teus não-gestos e perguntei: perguntas-te o que estou a pensar? perguntas-te o instinto que mato reclinada na cadeira? ou sabes que os teus olhos deviam-se perigosos para a tua boca? ou sabes que ao lado da imagem do espaço que ocupamos há uma outra que se vai criando sem acontecendo, onde um momento cala o pretexto de todos os verbos?)
não tenhas medo, penso. eu vivo de momentos, atrevo-me.
(sussurrasse uma mulher - hoje de cinzento - ao ouvido dele: não tenhas medo de mim. não me tires essa exclusividade)

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