quarta-feira, setembro 27, 2006

Corpotexto

Talvez o paradigma do desgosto seja uma unha encravada no pé.
-Há muito corpo nos teus textos. É mau sinal.
- Ando mais ou menos. Ando mal. Ando muito mal.
- Tem cuidado contigo. O que andas a fazer?
- Eu aqui não tenho medo.
Há muito corpo, por aqui. Se é nele que tudo se exprime, que fazer? Não escrever? Hoje? Mudar de tema? E se hoje abrisses esta janela e visses um texto sobre o mar? Teria de ser uma outra janela, talvez uma janela da Sofia, há nas dela poemas de sobra sobre o mar; por aqui será sempre a pele, o corpo, a história dele, a minha história, a nossa vida, a de toda a gente. O corpo, do cabelo ao sexo, é a morada de todas as descrições; não sei por quê, sei que é no fígado que me dói a criança que morre dentro de um saco de plástico.
Este meu corpo absorvente, uma esponja do mundo; este meu corpo que precisa de sentir de mais para lhe fugir tanta memória colectiva.

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